O avô Chico da Camarinha ainda mexe, e de que maneira.
Embora tenha entrado no último ano do seu longo reinado à
frente do feudo de Braga, não quer ir embora sem deixar sucessor. Eu já andava
desconfiado do silêncio a que se remeteu, relativamente à confusão que se
verifica nas hostes xuxialistas para a tomada do seu posto, mas agora entendi
tudo.
Então não é que tudo o que se passa foi ardilosamente
montado por ele?!
Pois é! Havia coisas que eu não entendia, mas agora fez-se
luz no meu espirito e ficou tudo clarinho.
O avô Chico nunca perdoou a quem se atravessasse no seu
caminho. Diz ele que pode até perdoar, mas que nunca esquece.
Não se esqueceu que o Toninho de Braga, apesar de seu
primeiro Delfim, e que pela sua mão entrou nas altas esferas xuxialistas, de
pois de subir na hierarquia começou a armar aos cucos, e quando vereador teve a
veleidade de pôr em causa, ainda que particularmente e à boca fechada, a
promiscuidade existente entra a Câmara e a empreiteiragem. Vai daí fez-lhe a
cama enviando-o para as lisbias. Claro que como é seu timbre não o fez
abertamente, antes disse-lhe que era bom para ele. Que um rapaz tão inteligente
e conhecedor tinha tudo para singrar dentro do partido e até chegar a ministro.
E o “rapaz” todo contente fez as malas e lá foi. Não chegou a ministro, mas
chegou a secretário de ministro.
Depois entrou na Câmara o submisso Vitor Cabeçudo. Mal
entrou o avô Chico farejou logo que ali não estava boa rês. Muito solicito,
aquilo que se chama um mouro de trabalho, mas ambicioso e comerciante.
Confirmou isso quando começou a ver o Cabeçudo, a comprar casa, a pôr barco na
marina, a participar em jantaradas devidamente acompanhado pelos abutres do
meio e se já andava desconfiado, ficou com certezas. Este tipo pode até ser
prejudicial à minha imagem totalmente transparente como se tem visto pelas
inspecções feitas à Câmara. E então, rua com ele da Câmara. Porque aqui só pode
estar “gente séria”. Claro que o Vitor Cabeçudo não gostou e até promoveu uma
festa de despedida em sua homenagem, dando sinal de que voltaria. E volto!
Voltou cheio de peito como dono do PS Braga, imposto ao avô
Chico por essa circunstância e impondo também que o Nuno Al Poim que o Avô
estava a preparar para a sua sucessão desamparasse também a loja . O avô
engoliu em seco, mas logo de seguida fez-lhe notar que ele poderia mandar no
partido, mas o dono da Câmara era ele. E para que ele ficasse ciente disso nem
um pelourinho lhe distribuiu. Ficas na Câmara, mas aqui não mandas nada.
Estava o avô Chico a pensar como iria resolver o problema sa
sucessão, já que com o Al poim fora e o Cabeçudo a mandar no partido a coisa
estava complicada, quando a brigada do reumático xuxialista se lembra de lançar
como candidato à Câmara de Braga, o Toninho de Braga que por força da derrota
eleitoral tinha deixado o cargo de Secretário de estado.
O avô fica atarantado, mas recorrendo à manhosice que lhe é característica
e habitual, chama de emergência o Vitor Cabeçudo e o Huguinho Assento da Chávena, que entretanto já tinha
dito ao ouvido do avô que queria ser o seu sucessor, e diz-lhes em tom solene:
-Meus Senhores, eu sei
que ambos querem sentar-se nesta cadeira, mas enquanto eu aqui estiver não
quero guerras dentro da Câmara, por isso negoceiem como quiserem mas
mantenham-se unidos. Pode até arranjar-se uma maneira de sentar aqui os dois.
Um senta-se às segundas, quartas e sextas e outro às terças, quintas e sábados.
Façam como quiserem mas evitem barulhos porque não estou em idade de ser
incomodado. Eu sei que o Vitor é bom negociante e que o Huguinho está a ganhar
experiência no campo. Por isso entendam-se que têm o meu apoio e da minha família.
Mas se o avô não chupa o
Cabeçudo nem com limonada como poderia agora apoia-lo para tamanho cargo, estão
os meus leitores a pensar e tem toda a razão em fazê-lo.
Mas não era esse o
pensamento do avô Chico. Ele sabia muito bem o que estava a fazer.
Para disfarçar chamou
até o Al poim e mandou-o apoiar o Vitor e o Huguinho informando-o só que lhes
estava a fazer a cama e que talvez ele tivesse sorte.
E o Al poim obedecendo
ao chefe e confiando na sua intuição não pôs em causa a estratégia do avô e vai
daí contra tudo o que ditava a sua consciência, engoliu o sapo e apareceu de
mãos dadas com o Cabeçudo. Ninguem entendeu isso e ele também não, mas se o avô
dizia é porque tinha de ser.
Com todos estes apoios e
todas as outras maquinações conhecidas o Vitor Cabeçudo e o Base de Chávena
Ganham as eleições para mandar no partido.
E quando o Cabeçudo
começa a embandeirar em arco e a pensar na cadeira do poder, eis que aparecem
num jornal diário o resultado das negociatas que tinha feito na compra dos
autocarros para a TUB. Agora adivinhem quem tinha acesso às cópias dos cheques
e dos termos da negociata. Pois estão a pensar bem esse mesmo. É que ele pode
perdoar, mas nunca esquece. Desta forma estão já dois fora da carroça, O
Toninho de Braga, o Vitor Cabeçudo e até serão três porque o Huguinho coligado
com o Vitor não tem peso para sozinho se impor ao avô Chico.
Poderia desta forma estar
aberto o caminho para o Al Poim. Mas esse… não estava em lado nenhum, já que o
cabeçudo que não é burro todos os dias, viu bem que ele ao apoiá-lo poderia ter
uma segunda intenção e tratou de o por logo à margem, não lhe dando nenhum
cargo na nova estrutura partidária.
Como iria agora o avô
Chico resolver este problema?
Os que ele não queria
estavam de fora, o que ele queria de fora estava.
Optou pela solução do
NIM e na famigerada e prometida sondagem para a escolha do candidato, tira do
bolso um independente fazendo constar que no meio desta confusão toda seria a
melhor solução. Aparece por isso um tal de Zé Mentes que não se sabe de onde
veio, ou por outra sabe-se que já antes se tinha oferecido para se candidatar à
cadeira do avô ali para uma organização da Senhora-a-Branca.
O Circo está montado.
Vamos vêr como se desenrolam os próximos
capítulos
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